Nome da Revista: Palíndromo
Classificação: B3
Dossiê Temático: Detalhe
Prazo: 15/01/2022
Titulação: Não informada.
O “detalhe” é um elemento intrínseco a um objeto ou a uma análise historiográfica de maior dimensão, cuja estudo muitos historiadores da arte ressaltam como premissa metodológica. De fato, como escreveu Daniel Arasse, em 1992, em seu livro recentemente reeditado (2014), seja ele visto inopinadamente ou cuidadosamente estudado, o detalhe é mais do que um mero recorte, pois fornece informações, e contribui para iluminar o significado, o uso ou a autoria de uma obra de arte.
Alguns subvertem a leitura inicial, como uma a mosca pintada em trompe l’oeil pousada na roupagem de um retratado, que pode indicar pecado ou morte; ou um cacho de uvas na mão de um Menino Jesus ainda no colo da mãe, anunciava, no século XVI, o derramamento do seu sangue e o sacramento da eucaristia.
No entanto, “detalhes” funcionam sobretudo como elementos essenciais de identificação, de época ou autoria, como uma pincelada solta ou contida, a dobra de um panejamento, um resto de policromia numa escultura, o realce num olhar ou uma jóia, o gesto de um personagem aparentemente secundário, e até a presença e forma de uma assinatura (verdadeira ou apócrifa, por extenso ou por monograma)
Por sua vez, detalhes podem tornar-se foco de uma ou várias outras obras, nomeadamente na arte conceitual ou fotográfica. Apropriações e re-leituras permitem, por exemplo, que um “mero” recorte se torne a obra inteira de outro artista.
Contudo, como dissemos, nem todo detalhe é recorte visual. Pode tratar-se também de um elemento complementar ou subliminar, passível de passar desapercebido num primeiro momento da análise. Pode ser assim não apenas o rosto da figura que observa, de outro cômodo, a cena principal de uma pintura, mas também uma partitura musical no canto de uma tela, o tipo de madeira que emerge entre as tintas de um painel, a espessura de uma xícara de porcelana, ou ainda uma voluta, intaglio ou policromia de uma moldura, onde incide - ou falta – luz numa exposição, a vitrine num canto do museu, o móvel que destoa da decoração, o nome desconhecido numa carta ao artista.
Propomos assim uma vasta abrangência de linhas temáticas, direcionadas mas não restritas às seguintes:
1.Por uma história da arte através do detalhe: 1.1.Aparições e revelações do suporte material 1.2.Análises científicas: microscopia, pigmentos 1.3Métodos expositivos: detalhes e mensagens subliminares 1.4.O detalhe e as demandas do tempo - a pesquisa historiográfica na compreensão das artes visuais - iconografia e interpretação - retoques, repinturas, restauros e “pentimentos” 2. Apropriações e rejeições na arte contemporânea 3. O detalhe na obra / obras em detalhe 3.1. O detalhe visual: 3.1.1. como elemento plástico - minúcia e miniatura - o transparecer de outras artes 3.1.2. como subversão do sentido - ironia - escatologia 3.1.3.O detalhe epigráfico: - letras “soltas” - legendas e dizeres - assinaturas e monogramas