quarta-feira, março 09, 2022

Revista de Ciências do Estado - "Retorno ao político: o embate entre razão e paixão na democracia" - Até 20/04/2022

Nome da Revista: Revista de Ciências do Estado

Classificação: B5

Dossiê Temático: "Retorno ao político: o embate entre razão e paixão na democracia"

Prazo: 20/04/2022

Titulação: não informada

Link para a chamada: clique aqui 


Texto da chamada


Com o intuito de incentivar a produção acadêmica no âmbito das ciências do Estado, a equipe editorial da REVICE torna pública a presente chamada, referente à composição do dossiê do volume 7, número 1, ano 2022. O tema do dossiê desta edição será RETORNO AO POLÍTICO: O EMBATE ENTRE RAZÃO E PAIXÃO NA DEMOCRACIA.


 


Após um ano de reflexões sobre os estudos brasileiros, alteia-se a necessidade de questionar não apenas as instituições nacionais, mas especialmente aquelas que constituem a estrutura da própria civilização ocidental. Ao repensá-las, conseguimos refletir sobre nós mesmos e, quiçá, seremos capazes de imaginar respostas para os problemas contemporâneos. Apesar de esforços semelhantes já terem sido feitos, como a mudança de perspectiva proposta por Pierre Rosanvallon, ainda é preciso retornar ao político.


Como evidenciado por Chantal Mouffe, o político é o tema de estudo que diz respeito à própria formação de uma sociedade, isto é, a forma como um agrupamento humano organiza suas disputas pelo poder, seus conflitos inerentes, seus espaços de antagonismo e de embates. Diferencia-se, portanto, da política, que se limita a determinar práticas e instituições para organizar os embates advindos do âmbito do político — a política realiza um processo de ordenamento dos conflitos formados e/ou reconhecidos no nível político, confinando-os, por exemplo, a eleições, disputas parlamentares, partidos políticos.


Nesse sentido, Mouffe, ao recuperar e atualizar a teoria do amigo e inimigo, retorna ao político para tratá-lo como uma arena de oposição entre projetos que almejam ser hegemônicos, numa sociedade onde sua coexistência pacífica ou união é impossível: o objetivo de cada ideologia é a tomada do poder. Entretanto, esse embate não mais seria entre inimigos, senão entre adversários, que não almejam a destruição de seu opositor, mas a conquista vitoriosa de um espaço político.


A vertente acadêmica representada por Mouffe percebe a natureza necessariamente passional e agônica do político, ao contrário da visão que tem como um de seus principais expoentes Jürgen Habermas. Para este outro grupo, trata-se de uma relação no âmbito discursivo, onde os conflitos seriam resolvidos logicamente por meio de um consenso racional. Afasta-se o passional e o conflitivo, mitigando as diferenças em prol da resolução de divergências por meio da razão e do diálogo. Para eles, essas seriam as bases da democracia liberal, que considera que o período dos grandes embates por poder e projetos ideológicos já se findou, cabendo agora à arena política liberal todas as discordâncias de pensamento.


Nesse contexto de embates interpretativos sobre o político, podemos perceber, nos últimos anos, acontecimentos como o Brexit, a ascensão da extrema-direita — na Hungria, Itália, Suíça, Alemanha, e mesmo Brasil e Estados Unidos — bem como a retomada do populismo latino-americano na Argentina e no México, as crises e protestos contra a imigração, a proliferação de fake news, e a fratura social causada pelas discordâncias diante das medidas de contenção da pandemia, como lockdowns e vacinação. O que parece indicar a insuficiência, ou não, das organizações contemporâneas em responder a crises, seja sob visões conflitivas e passionais, seja sob perspectivas lógicas e racionais.   


Finalmente, a REVICE convida a comunidade acadêmica a retornar, novamente, ao político, com suas disputas interpretativas e suas relações entre a política e o Estado. Estaria a democracia liberal em decadência, confirmando o paradigma amigo-adversário? Quais os impactos dessa possível mudança para as atividades essenciais do Estado? Como essas disputas hegemônicas têm interferido na execução de políticas públicas, como as voltadas ao controle da pandemia, da violência, dos costumes, da imigração? Qual o impacto das novas formas de comunicação na definição do político, ou inversamente, como a forma de organização do político molda a escolha das maneiras de se comunicar e mobilizar?


Esse número engloba, portanto, trabalhos sobre: o político; a organização política; as eleições; os partidos políticos; a comunicação política; as políticas públicas e sua relação com o político; a democracia liberal, suas possíveis crises ou conquistas; o antagonismo versus o consenso; o neoliberalismo e suas consequências sobre o político; a soberania interna e externa; a política externa como afirmação do pluralismo político; a ideologia; o papel do Estado; as instituições políticas democráticas; o poder; os projetos hegemônicos de poder; a história do político; a história filosófica do político; o populismo de esquerda e de direita; o limite do político; o limite do discurso político; o cosmopolitismo político; o culturalismo político; o transnacionalismo democrático; e a governança global.


 I - A publicação da REVICE dar-se-á em fluxo contínuo.

II – A REVICE receberá trabalhos para o presente do dossiê da data da sua publicação até 20 de abril de 2022.

III - Os trabalhos cujo processo de avaliação e correção não se encerrarem até 30 de junho de 2022 serão publicados nos números seguintes da REVICE.

IV - Todas as políticas de submissão da REVICE, bem como suas políticas editoriais se encontram em seu site oficial.

V – Serão aceitos apenas artigos, ensaios, resenhas e traduções inéditas.

VI – Os trabalhos de temática livre continuam a ser aceitos pela REVICE.


 Belo Horizonte, 20 de janeiro de 2022.


Victoria Nicolielo Reginatto

Editora-Chefe


João Pedro Braga de Carvalho

Editor-Chefe Adjunto