Nome da Revista: Fragmentos de Cultura
Classificação: B3
Dossiê Temático: Filosofia Contemporânea - Fenomenologia e Vida
Prazo: 15/09/2020
Titulação: Autores/as devem ter, no mínimo, a titulação de mestres/as e, caso seja mestrando/as é necessário buscar coautoria de doutores/as, preferencialmente de seus orientadores/as. A coautoria pode ter, no máximo, quatro autores/as, que, caso solicitados/as, atestem sua contribuição específica.
Link para a chamada: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos
Sempre será problemático tratar a vida como um “conceito”. Para dizê-lo de uma maneira sucinta e direta, que paga o preço de parecer enigmática, este talvez seja um dos problemas mais centrais de toda investigação fenomenológica desde Husserl. Por que é problemático tratar a vida como “conceito”? Ora, poder-se-ia responder sem mais, porque o conceito, por natureza, desencarna – termo, não por acaso, eminentemente fenomenológico – ela que não pode ser se não encarnada, de carne e osso, a vida. Não será esta, justamente, a ruptura mais radical que a filosofia husserliana estabelece com o cartesianismo que, explícita ou sub-repticiamente, ainda se impunha ao pensamento até o início do século XX? Husserl, que nunca hesita e nem se cansa de prestar homenagens a Descartes, por outro lado também não deixa de apontar seus limites. E, em sua busca da experiência mais profunda, mais radical; nessa pesquisa obstinada da coisa mesma, é que a compreensão fenomenológica do sujeito e do mundo não abre mão da vida. E o fenômeno, que afinal é o que interessa de maneira mais explícita e direta à reflexão fenomenológica, não poderá ser compreendido fora dessa encruzilhada que surge quando o pensamento não admite conceder precedência a nenhuma dessas ideias, ou conceitos: mundo, sujeito e vida. Não será essa a originalidade que explica a ruptura que a fenomenologia, afinal, encarna? Nada disso é ponto pacífico entre os estudiosos da fenomenologia, mas justifica, a nosso ver e de maneira suficiente, a escolha do tema proposto aos estudiosos que aceitaram contribuir para o presente dossiê. Os autores que se inscrevem na “tradição” inaugurada por Husserl, nem sempre são seus fiéis continuadores. Quase todos, na medida em que transgridem os rígidos esforços do mestre, se fazem seus mais dignos discípulos. E há ainda aqueles que, não abdicando do vivente para a compreensão da vida, abrem mão da essência, revolvem a filosofia e, sempre apoiados na tradição que sustenta a fenomenologia desde seu início, abrem novos caminhos. Mas, enfim, não será essa a forma mais radical da encarnação? O presente dossiê pretende, portanto, oferecer pelo menos uma mostra da riqueza de possibilidades que a fenomenologia preserva ainda em nossos dias, o que, num aceno ao outro termo que orientará as reflexões aqui reunidas, testemunha sua vitalidade.